Uma rádio que traz esperança

Num canto do pátio da Penitenciária João Bosco Caneiro, localizada no município de Guarabira/PB, Damião Barbosa de Lima, 35, espera ansioso notícias do mundo lá fora. O elo entre o apenado e a realidade que deixou para trás, há cerca de dois anos e meio, acontece através das ondas do rádio, da Difusora Alternativa Esperança. A voz que chega até Damião pelas caixinhas de som, instaladas no pátio da unidade prisional, faz com que o apenado acredite num futuro de oportunidades.

Quem comanda a programação matutina da rádio tem um capítulo da história de vida parecida com a de Damião: o locutor e programador Marcone Macena, 31, cumpriu pena na Penitenciária João Bosco Carneiro e agora espera os dois meses que faltam para conquistar definitivamente sua liberdade, que hoje é condicionada.
Além dos programas "Estação Forró" e "Manhã de Sucesso", comandados por Marcone Macena, um dos programas mais esperados por Damião de Araçagi, como é mais conhecido, é o "Boletim Diárioda Execução Penal", através do qual o apenado acompanha o andamento de seu processo e de colegas que dividem com ele a dura experiência de estar preso.

O programa é apresentado pelo juiz da Vara de Execuções Penais da Comarca de Guarabira, Bruno Azevedo, idealizador e fundador da rádio Esperança, que funciona num estúdio montado no 1º andar do Fórum de Guarabira.
A programação foi criada para levar à população carcerária informações sobre o andamento processual das penas e conscientizá-la sobres os seus direitos. Assim como as músicas selecionadas para tocar nas grades das estações da FM, os processos que serão interpretados pelo juiz Bruno são selecionados a partir de pedidos dos próprios apenados, que escrevem cartas com as solicitações e as entregam para Marcone.

Mas, muito além da prestação de serviço, a rádio alternativa leva aos apenados de Guarabira/PB uma oportunidade ainda mais significativa: o resgate da cidadania. "Através da rádio, o Dr. Bruno nos transmite informações claras e objetivas sobre nossos processos, sem muita burocracia. Ele assumiu um papel que nenhum advogado assumiu por nós, de falar sobre nossos direitos e nos tratar realmente como cidadãos, como a sociedade parece não nos enxergar mais. Mais do que juiz, o Dr. Bruno é um pai pra gente", desabafou Damião de Araçagi, que foi sentenciado com uma pena de nove anos e 11 meses.

O respeito que os apenados cultivam é resultado de um trabalho desempenhado pelo juiz das Execuções Penais, que acredita na ressocialização dos presos. "Busquei um meio para falar com toda a população carcerária, colocando em prática o que só assitia na teoria. E, através dos princípios da celeridade, oralidade e publicidade, desenvolvi o projeto da rádio, um espaço de informação, entretenimento e cidadania para os apenados", destacou o juiz Bruno Azevedo.

Além do "Boletim Diário", os apenados escutam - através das caixinhas de som instaladas desde a entrada até o pátio da unidade prisional - músicas de todos os estilos e programas religiosos, apresentados por líderesde três doutrinas distintas. E, enquanto acompanham as notícias do mundo lá fora, sonham com um futuro de liberdade e criam, no presente, novas possibilidades de vida e convivência.

"Estou aqui para pagar pelos erros que cometi. Mas, mesmo isolado nesta penitenciária, eu sou parte da sociedade e procuro desempenhar do meu papel dentro dela. Aqui, organizo festas comemorativas, campeonatos de futsal e outras atividades de interação entre todos os apenados. No fundo, a rádio nos incentiva a não desistir de nós mesmos", enfatizou Damião de Araçagi.


Fonte: Jornal o norte - 06/08/2010

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